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História do Caminho de Santiago

São Tiago nasceu em Betsaida, foi filho de Zebedeu e de Salomé e irmão de João, o Evangelista. Tiago e João eram pescadores e viviam às margens do lago Tiberíades e foram chamados por Jesus para serem seus discípulos. Dentre os doze apóstolos, Tiago faz parte daquele grupo mais íntimo de Jesus (formado por Pedro e João) testemunhando milagres e a Transfiguração de Jesus. 

 

Após a dispersão dos apóstolos pelo mundo, Tiago foi pregar o evangelho na província romana da Galícia, extremo oeste espanhol. De volta a Jerusalém, foi perseguido, preso e decapitado a mando de Herodes no ano 44. Depois da sua morte em Jafa, na Judeia, o corpo e a cabeça do apóstolo foram transportados de volta para a Galiza pelos seus discípulos Teodoro e Atanásio numa barca de pedra, aportando na costa espanhola, na cidade de Iria Flavia, no local onde é hoje Padrón. 

 

O corpo do apóstolo foi sepultado secretamente num bosque chamado Libredón, onde hoje se ergue a catedral, e assim, o local permaneceu oculto durante séculos. Depois de enterrarem o corpo do apóstolo, os dois discípulos ficaram a pregar em Iria Flávia. Num monte não muito longe do centro de Padrón, do outro lado do rio Sar, encontra-se um outro lugar de culto a Santiago: a pedra em cima da qual, de acordo com a lenda, Santiago celebrou missa. 

Certa noite, no coração do fim do mundo que era a Galiza, o eremita Paio (Pelágio ou Pelayo) observou um fenômeno que ocorria neste bosque: uma chuva de estrelas se derramava sobre um mesmo ponto, proporcionando uma luminosidade intensa pousada no bosque Libredón (local onde se situa atualmente a Igreja de São Félix de Solovio (San Fiz). Ele comunicou ao bispo Teodomiro de Iria Flávia, que se deslocou ao local e ali identificou o achado como sendo o o sepulcro de Santiago com o corpo decapitado do apóstolo, nos restos de uma antiga capela e de um antigo cemitério romano. E assim, no dia 25 de Julho de (provavelmente) 813, foi encontrada uma arca de mármore com os restos do apóstolo Tiago o Maior, o Filho do Trovão, que, de acordo com a tradição, tinha evangelizado no norte da Península.

 

A notícia se espalhou rapidamente, e o local passou a ser visitado por andarilhos de toda a Europa a fim de conhecer o sepulcro do Santo. A quantidade de peregrinos aumentava intensamente a cada ano. Nobres e camponeses dirigiam-se em caravanas, caminhando ou cavalgando em busca de bênçãos, cura para as enfermidades, cumprir promessas ou apenas aventuravam-se em terras distantes. 

 

Pouco a pouco foi caindo no esquecimento, até que o ermitão o encontrou e então começaram as lendas sobre a origem da peregrinação do Caminho de Santiago de Compostela. Uma delas diz que o próprio imperador Carlos Magno o percorreu, daí que a tradição popular considere que foi ele que inaugurou o itinerário jacobeu.

Mas outra lenda diz que o rei Afonso II das Astúrias (r. 791–842) teria também sido o primeiro peregrino de Santiago da história quando se deslocou ao local com a sua corte. Afonso II, o Casto, ordenou que no local da descoberta fosse erguida uma capela em honra a São Tiago onde, segundo a lenda, repousam os seus restos, proclamando-o guardião e padroeiro de todo o seu reino. Neste local, estabeleceu-se uma comunidade religiosa permanente. Em pouco tempo, uma cidade foi erguida em torno daquele bosque, e denominada Compostela. A origem etimológica do nome remete ao latim: Campus Stellae, ou Campo das Estrelas, e assim a junção final: Compostela.

 

No ano de 899, Afonso III construiu uma basílica sobre o rústico templo erguido por seu antecessor. Porém, oitos anos mais tarde, a basílica foi saqueada pelo árabe Almanzor, que respeitosamente, preservou as relíquias do apóstolo. Em 1075, iniciou-se a construção da atual catedral, cinco vezes maior que a anterior.

Com o passar dos anos, essa igreja converteu-se num dos principais centros de peregrinação da cristandade e deu origem ao Caminho de Santiago, uma via pela qual se expandiram na península Ibérica os novos estilos arquitetônicos que trinfaram na Europa. O Caminho estendeu-se por toda a Europa cristã e o número de peregrinos aumentou consideravelmente graças aos contatos culturais entre as nações europeias.

 

Tendo esta bela história como pano de fundo, não é de estranhar que o túmulo apostólico se tenha convertido, a partir da sua descoberta, num ponto de referência para a cristandade. Como se fosse um ímã semelhante a Roma ou Jerusalém, Compostela começou a atrair visitantes que, a partir de todos os pontos do planeta queriam seguir o caminho das estrelas, assinalado pela Via Láctea, para ganhar o perdão dos seus pecados. 

 

Além do significado espiritual, o Caminho de Santiago - declarado Patrimônio da Humanidade - goza de outros valores históricos, tal como o de ter sido a coluna vertebral da unidade cultural que a Europa é: as sendas dos caminhantes da Suécia, Polônia, Países Baixos, Grã Bretanha, Turquia e todas as suas ramificações confluíam em França para seguir até a Galiza como um só corrente. Perseguindo o caminho do sol e das estrelas, esse fluxo humano que atravessava os campos de todo o mundo mereceu de Dante o nome de "peregrinação". E toda vez que o dia 25 de julho (Dia do Apóstolo) cai num domingo, é declarado Ano Jubilar. 

 

O romeiro mete-se ao caminho, de ida e volta, para procurar-se e encontrar-se a si e aos outros em cada etapa, em cada albergue e em cada monjoie (montículo de pedra) até chegar em frente ao altar do Apóstolo. Compostela, umbigo da Europa, é o final desta aventura. E essa cidade de beleza milenar oferece-se ao visitante como o cume dos seus desejos, como a entrada no Paraíso que cada um soube construir.

 

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Os textos foram editados a partir de:

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